sábado, 30 de abril de 2011

Zazie e o preço das coisas à borla

http://blasfemias.net/2011/04/30/o-candidato-ideal-da-direita-socialista/#comment-356548


Zazie (Nick) comenta no Blasfémias um post do JM de forma interessante.

"se alguém acredita mesmo nisso- que o país não tinha défice em se acabando com escola pública e hospitais à borla e subsídios de desemprego, deixando tudo o resto na mesma-"
Se o Estado acabasse com a escola e os hospitais públicos cresceria a despesa privada nessas áreas e manter-se-ia bastante despesa pública ainda nessas áreas, não sendo liquido que o resultado final fosse menos oneroso directamente para o país como um todo. Poderia persistir ou agravar-se o déficite externo do país. 

Já no que toca ao subsídio de desemprego parece-me consensual que haveria de imediato diminuição da despesa e acréscimo da pobreza.

Mas é no "tudo o resto" que acho que a comentadora tem mais razão. É nesse tudo o resto que é mais difícil mexer pelo carácter inorgânico (mas bem estrutural) desse "tudo o resto".


"Portugal teve de se baixar por causa de um alucinado com nome" http://portugaldospequeninos.blogspot.com/2011/04/o-ceu-que-nos-protege.html

É por este detalhe que até 5 de Junho vale a pena perceber os mecanismos que dão eficácia à estratégia do Falso.

Até 5 de Junho não é possível mudar nada de relevante no que há de sociológicamente estrutural no país por nós próprios. O FMI / UE impor-nos-ão uma ordem de verniz a que obedeceremos sem honra. Sob essa camada um certo país aguardará a hora do seu regresso.

Até 5 de Junho é possível afastar o Falso.

Sócrates, o falso

A falsidade estrutural de Sócrates atingiu tal dimensão que é difícil imaginar o país após 5 de Junho governado por este político. 

Sócrates é o primeiro-ministro pessoalmente mais maligno do último quarto de século português. 

Apesar do problema político associado a elementos de carácter pessoal de Sócrates, ser pálido quando confrontado com os problemas estruturais da política portuguesa e europeia, acontece que é também mais facilmente resolúvel. 

É-o entre outros motivos porque estamos em vésperas de eleições e o seu afastamento está nas mãos de um gesto único por parte dos eleitores.

Por isso e porque é, entre outros, um bom exemplo do que há a mudar na vida pública e institucional portuguesas, dedicar-me-ei mais do que era minha intenção inicial a reflectir sobre a acção desse contribuinte.

Titanic versus Iceberg

Sócrates ao comando do Titanic em que transformou Portugal, tem uma teoria interessante.

Alega que o Titanic está a ser perseguido por Icebergs desde há algum tempo. Alguns Icebergs são até atraídos por tripulantes, como Passos Coelho e Paulo Portas, que lançam da borda do barco alpista com fartura na intenção de atrair Icebergs contra a embarcação. 

Chega a dar-se o facto de gritarem em altos berros "cuidado com o Iceberg", como fez Manuela Ferreira Leite bem antes de 2009, acordando o Iceberg que não nos topara e atraindo-o contra o Titanic. 

Não percebem que a estratégia certa era fechar os olhos com muita força e rosnar "no pasa nada"como fez durante anos Sócrates, o falso.

Agora, a pique, atrevem-se a culpar o comandante da tragédia. Como se o comandante de um navio pudesse influenciar a sua trajectória.

Diferença

Uma das diferenças entre os PEC I, II, "III" e IV  e o acordo com o FMI / UE é que esses PEC pretendiam mudar o comportamento dos mercados não trazendo financiamento próprio acoplado.


Para Merkel eram sempre bons pois, entre outros motivos, eram "grátis" para o contribuinte alemão. A vir dinheiro fresco para Portugal esse dinheiro viria dos mercados. Era aplauso sem risco.


Com o FMI / UE torna-se evidente que, mesmo com medidas mais duras, os elogios de Merkel volatilizam-se. Cada elogio traria consigo dinheiro alemão.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Esqueletos no armário

O PSD parece apostar na narrativa dos esqueletos no armário. Essa narrativa para ser consistente tem de ser reforçada com exemplos concretos. Os recentes ajustes da déficite de 2010 não foram reinterpretados pelo PSD e pelo CDS de maneira persuasiva.

Sócrates tem conseguido vender uma ideia difícil de vender: o agravamento do déficite não ocorreu, tratando-se apenas de uma operação contabilística da UE sem relação com a despesa do governo. 6,8 ou 9,1 são exactamente a mesma coisa.

A oposição não consegue explicar o óbvio:
1º a diferença entre 6,8 e 9,1 é devastadora para a nossa capacidade negocial com o FMI / UE; 2º essa diferença corresponde a dinheiro efectivamente gasto, esse dinheiro veio do estrangeiro agravando a dívida e o suposto método contabilístico anterior escondia esse esqueleto e é por isso mesmo que a UE mudou de método.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Demitiu-se





Demitiu-se.

Sócrates demitiu-se num timing bom para a propaganda mas mau para o país.

Escolheu o momento da demissão por eleitoralismo e demagogia.

Iria ser demitido, todos sabíamos, pois deixara de gerar confiança dentro e fora de fronteiras. Os elogios que lhe faziam lá fora eram protocolares e instrumentais - iguais aos que lhe fizeram no PECI, PECII e PEC III e que, depois do PEC IV, lhe fariam no PEC V, no PEC VI e em todos os outros que empobrecessem o país para pagar aos credores franceses, holandeses, alemães, etc.

Mesmo com o PEC IV chumbado, só se devia ter demitido depois de resolver o problema de tesouraria do estado, da falta de dinheiro para pagar os salários e as obrigações externas.

As taxas de juros não dispararam quando se percebeu que os representantes do povo não iam aceitar o PEC IV sem contrapartidas para o país. As taxas dispararam quando Sócrates se demitiu e se percebeu que não tinha cuidado de nenhuma operação financeira para garantir o financiamento do estado sequer a curtíssimo prazo.

A AR não aprovou qq moção de censura e o momento da demissão foi irresponsável pois devia sê-lo depois de fazer o trabalho de casa QUE ESTÁ A SER FEITO AGORA ou, pelo menos, depois de ter falado verdade informando o país que a partir de Junho não havia dinheiro para salários.

Pode portanto, desde que após um esforço prévio para explicar esta ideia verdadeira, usar-se sem cerimónias o termo demitiu-se.

Por exemplo porque não dizer claramente que o Governo se está a DEMITIR das suas obrigações no que toca à implementação das portagens nas  SCUTs e o faz por motivos de oportunismo eleitoral, demagogia eleitoralista. O governo não se pode DEMITIR de gerir os assuntos correntes do país.

O governo não se pode DEMITIR de chegar a acordo com a troika.

O governo não se pode DEMITIR da obrigação de pagar aos militares a tempo e horas.

O governo não se pode DEMITIR de falar verdade sobre as contas públicas.