domingo, 15 de maio de 2011

Sócrates versus Figueiredo

O antigo presidente brasileiro Figueiredo teve um problema grave durante a transição para a democracia no Brasil. Acusado de ser responsável por múltiplos males do gigante sul americano era particularmente impopular. Fosse onde fosse juntavam-se expontaneamente pessoas que o verberavam e vaiavam. A coisa era de tal forma expontânea e generalizada que ficou virtualmente prisioneiro do seu palácio.

Punha um pé na rua e minutos depois era uma correria de populares a ver quem mais perto dele chegava para descarregar todo o fel de um povo ofendido.

Figueiredo não podia sair à rua.

Sócrates é um caso bem diferente. Destruiu o seu país numa escala não vista.  É causa de sofrimento e imprevisibilidade na vida de milhões de pessoas.  Centenas de milhar de famílias viram o desemprego bater-lhes à porta. Restrições foram impostas aos seus filhos e aos avós dos seus filhos. Casais separaram-se nas guerras que sempre surgem quando o dinheiro falta e as pessoas se incendeiam para saber de quem é a culpa. Que poderiam ter feito de diferente? Raramente olham para a televisão e apontam o dedo ao Falso imputando-lhe a razão da sua desgraça.

Crianças comem só uma vez por dia e as suas mães ficam com o coração partido quando as mandam para a cama com uma sopa no estômago. Perguntam-se se mereciam o que lhes aconteceu e atribuem culpas a este e àquele. Raramente olham para a televisão e sentem que foi o Falso quem afundou a vida colectiva do país e tirou aos seus filhos o direito a uma refeição quente.

Dezenas de milhar de jovens licenciados meteram-se num avião ou num autocarro e emigraram. Eles e outros profissionais menos jovens. Deixam para trás as suas famílias que muitas vezes nunca recuperarão e que baixam os braços por esta volta inesperada do destino que as deixa sós. Poucas vezes olharam o verdugo, o Falso e souberam no seu coração que quem os deportou foi ele.

Doentes reumáticos, doentes com arritmias, asmáticos, insuficientes cardíacos, deprimidos, etc, abandonam a medicação que não podem pagar e vêem voltar a incapacidade e a doença, fragilizados e impotentes. Quantos se viraram para o demagogo e quiseram que este lhes dissesse que ganhou ele com a sua miséria física e moral?

Por isso Sócrates passeia-se em campanha sem risco. Os carneiros mansos, domesticados e impotentes, obtusos e vergados, até se voluntarizam, se necessário for, para agitar a bandeirinha rosa se lhe puserem uma nas mãos. 

Sócrates pode sair à rua. Onde está o povo que já teremos sido?

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